Do carrinho de mão à água encanada: saneamento transforma vidas e comunidades em Campo Grande
03/11/2024
Conheça a história de transformação da comunidade Homex, com a chegada do saneamento básico. Essa conquista trouxe dignidade, saúde e qualidade de vida para milhares de pessoas. Darline Lima Alves, de 37 anos, moradora da comunidade Homex, em Campo Grande
Maressa Mendonça/g1 MS
A conquista do saneamento básico marcou uma nova era na vida dos moradores da comunidade Homex, em Campo Grande. Entre as histórias emocionantes, a de Darline Lima Alves, de 37 anos, representa o que milhares de pessoas enfrentaram ao longo dos últimos anos.
“Antes, para conseguir água, a gente tinha que ir longe, levando um carrinho de mão, baldes e roupas para lavar. Nossa pele ficava queimada de tanto andar no sol. Depois, vieram os ‘gatos’, tudo improvisado. Se algo dava errado, afetava todos. As crianças viviam doentes, e a água que chegava era precária. Não foi fácil, mas agora tudo mudou com água encanada em casa”, relata Darline, emocionada.
Nuvem de palavras sobre a importância do saneamento básico
Anderson Viegas/g1 MS
A comunidade, que se estabeleceu no antigo empreendimento Homex, começou a passar por um processo de regularização fundiária em 2023. Essa mudança possibilitou a chegada de serviços essenciais, como energia elétrica, água tratada e coleta de esgoto, elevando a qualidade de vida de cerca de 1,4 mil famílias e mais de 5 mil pessoas. “Agora, é uma mudança completa. É mais dignidade para nós. A vida agora está às mil maravilhas”, comemora Darline.
Maria Célia de Lima, também é moradora da comunidade Homex, em Campo Grande
Maressa Mendonça/g1 MS
Essa transformação, contudo, não foi apenas uma questão de infraestrutura. Ela simboliza uma verdadeira mudança de paradigma para os moradores, que por anos enfrentaram condições precárias. Maria Célia de Lima, outra residente da Homex, relembra as dificuldades diárias causadas pela falta de saneamento.
“Todo dia era uma surpresa, às vezes não tinha água. Dependíamos de ajuda e precisávamos juntar dinheiro para consertos. A água vinha com terra; era preciso coar e ferver”, recorda. A saúde de sua família também era comprometida pela água de má qualidade. “Meu esposo tinha diarreia constante, e eu coava a água em fraldas para tentar reduzir as doenças. Agora, com água encanada, tudo mudou. É lindo ver a água cristalina saindo da torneira”, afirma Maria Célia, emocionada.
Comunidade da Homex, em Campo Grande, comemora chegada da água encanada
Maressa Mendonça/g1 MS
O impacto da regularização também é destacado por Francisco Jailton Guimarães Saraiva, conhecido como Jajá Nordestino, vice-presidente da comunidade. “No início, era tudo improvisado – fossas, banheiros. Muita gente andava mais de 500 metros para buscar água, sem saber que havia uma fonte mais próxima. Hoje, graças a Deus, está tudo regularizado”, conta Jajá, aliviado.
Benefícios do saneamento para saúde e qualidade de vida
A chegada do saneamento básico, além de melhorar a qualidade de vida, trouxe mudanças significativas na saúde da comunidade. Marizeth Silva Dias, de 57 anos, moradora da comunidade Nelson Mandela, vive em uma situação semelhante e sonha com as mesmas melhorias. Após um incêndio na região em 2023, a maioria das famílias foi realocada, mas ela ainda aguarda pela nova casa.
Marizeth Silva Dias, de 57 anos, moradora da comunidade Nelson Mandela, em Campo Grande, convive diariamente com o problema da falta de saneamento
Maressa Mendonça/g1 MS
“A água não serve nem para dar banho; o jeito é comprar água mineral para a neta”, lamenta. Luiz Ricardo Vieira da Silva, de 36 anos, também espera por uma nova moradia onde possa contar com água tratada. “Pego água na casa da minha mãe para beber. Diarreia e dor de estômago são normais aqui, tanto para crianças quanto para adultos”, relata.
A situação enfrentada na Homex e no Mandela, onde moradores precisaram recorrer a soluções improvisadas para acesso à água e esgoto, reflete um problema comum em assentamentos irregulares no Brasil. Segundo o Relatório Brasil – Saneamento Básico em Áreas Irregulares, de 2016, do Instituto Trata Brasil, as condições precárias em comunidades irregulares geram riscos à saúde e ao meio ambiente.
O estudo destaca que, em favelas e regiões sem infraestrutura adequada, é comum o armazenamento impróprio de água em baldes, poços rudimentares, esgoto a céu aberto e acúmulo de lixo, todos fatores que agravam a vulnerabilidade social e aumentam a exposição a problemas de saúde pública.
“Além disso, as ligações clandestinas à rede de água aumentam o risco de contaminação e perdas hídricas, enquanto os esgotos geralmente são despejados em córregos ou em fossas rudimentares, impactando o meio ambiente e a saúde das populações locais”, observa o estudo.
O médico infectologista e pesquisador da UFMS, Julio Croda, alerta sobre os impactos na saúde em locais sem água potável: “As doenças mais comuns incluem diarreias, parasitoses e infecções virais. Diarreia e desnutrição formam um ciclo que impacta o desenvolvimento cognitivo das crianças”, explica Croda. Ele ressalta que o saneamento básico reduz a desnutrição, diminui as hospitalizações por infecções e aumenta a expectativa de vida, sobretudo entre as crianças.
Médico infectologista e pesquisador da UFMS, Julio Croda,
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Ariel Ortiz Gomes, doutor em Saneamento Ambiental e professor da UFMS, complementa a análise: “A falta de saneamento implica uma perda significativa na qualidade de vida, afetando a saúde pública com doenças como diarreias e dermatites, além de impactar a economia das famílias”. Em seu estudo, Gomes evidenciou que cada nova pessoa incluída na rede de esgoto representa uma economia de até R$ 7 em internações por doenças diarreicas em crianças menores de quatro anos, mostrando a importância do saneamento para a saúde e a economia.
Ariel Ortiz Gomes, doutor em Saneamento Ambiental e professor da UFMS
Reprodução/Redes Sociais
Campo Grande: Referência Nacional em Saneamento
Nuvem de palavras do saneamento de Campo Grande
Anderson Viegas/g1 MS
Campo Grande destaca-se nacionalmente com avanços significativos no setor de saneamento. Em 2024, foi classificada como a segunda capital brasileira em cobertura de saneamento pelo Instituto Trata Brasil, atingindo, conforme dados de 2022, 99,98% de abastecimento de água e 86,24% de coleta de esgoto.
O tratamento de esgoto chega a 66,10%, superando a média nacional, de 56%. Entre 2018 e 2022, os investimentos no setor somaram R$ 796,19 milhões, fortalecendo a infraestrutura da cidade. Campo Grande apresenta a quarta menor taxa de perdas na distribuição de água (19,80%) e é a segunda cidade em menor índice de perdas por ligação, com 114,62 litros.
Gabriel Buim, diretor-presidente da Águas Guariroba
Águas Guariroba/Divulgação
Gabriel Buim, diretor-presidente da Águas Guariroba, ressalta que a cidade já alcançou 100% de cobertura de água tratada e que, até o final do ano, atingirá 93% de cobertura de esgoto, superando as metas estabelecidas pelo Marco Legal do Saneamento Básico. “O objetivo é atingir 98% de cobertura de esgoto até 2029, universalizando o saneamento na capital”, afirma Buim.
Instalação de hidrometro de rede de água na comunidade Homex, em Campo Grande
Águas Guariroba/Divulgação
A diretora-executiva Francis Faustino reforça a importância do programa Tarifa Social, que oferece um desconto de 50% na conta de água para 1,4 mil famílias na Homex, beneficiando mais de 5 mil pessoas. “Essas iniciativas não apenas asseguram saúde e dignidade, mas também proporcionam uma qualidade de vida melhor e mais acessível para os que mais precisam”, afirma Faustino.
Compromisso com a preservação dos recursos hídricos
Os avanços em saneamento de Campo Grande estão acompanhados de esforços de preservação ambiental. A bacia do Guariroba, uma área que passou por um intenso processo de recuperação ambiental, é hoje um exemplo de conservação e produção sustentável, assegurando a proteção dos recursos hídricos da cidade. A preservação dos mananciais locais reforça o compromisso da cidade com o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida de seus habitantes.
Atualmente, cerca de 40% da água que abastece a Capital é captada do Córrego Guariroba e percorre mais de 30 quiilômetros impulsionada por um potente sistema de bombeamento, até chegar à estação de tratamento. O restante vem do Córrego Lageado (13%) e de 157 poços profundos (47%), dos quais 14 extraem água do Aquífero Guarani.
Córrego Guariroba é responsável por por 40% do abastecimento de Campo Grande
Anderson Viegas/g1 MS
“Desde 2015, todas as casas da cidade têm acesso à água tratada direto na torneira. E neste ano, estamos alcançando 93% de cobertura de rede de esgoto, o que nos posiciona à frente do prazo estabelecido pelo Marco Legal do Saneamento”, pontua Buim.
Obra de implantação de rede de esgoto em Campo Grande
Maressa Mendonça/g1 MS
Com as metas de cobertura de esgoto previstas para serem atingidas até 2029, Campo Grande desponta como um modelo nacional de gestão e eficiência em saneamento. “O nosso principal objetivo é universalizar o saneamento, atingindo 98% de cobertura de rede de esgoto. Estamos trabalhando para oferecer aos moradores da capital a melhor água do país e um sistema de esgoto completo, seguro e tratado”, finaliza Francis Faustino.
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