'Entre Parques': Casal que visitou e documentou os 75 parques nacionais conclui expedição única no país
23/10/2024
Letícia Alves e Dennis Hyde são as únicas pessoas a percorrerem todas as Unidades de Conservação do tipo no país. Expedição durou três anos e passou por Mato Grosso do Sul em 2021. Letícia Alves e Dennis Hyde visitaram o Parque Nacional da Serra da Bodoquena em 2021.
Divulgação/Entre Parques
No dia 5 de junho de 2021, a psicóloga Letícia Alves, de 39 anos, e o economista Dennis Hyde, de 44, iniciaram a primeira expedição brasileira que percorreu e documentou os 75 parques nacionais do país. O casal, que teve como primeira parada o Parque Nacional de Itatiaia (RJ), viajou mais de 90 mil Km e caminhou por 3,5 mil Km de trilhas.
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No último dia 18, o projeto chamado “Entre Parques” encerrou sua trajetória em Fernando de Noronha. Em Mato Grosso do Sul, o projeto visitou o Parque Nacional da Ilha Grande, Parque Nacional da Serra da Bodoquena e, a partir de Corumbá, o Parque do Pantanal Mato-grossense, no estado vizinho, em 2021.
Entre Parques em Mato Grosso do Sul
Segundo Letícia, a ideia em realizar a expedição surgiu em 2018 durante uma viagem de férias quando o casal, que mora em São Paulo, visitou os parques nacionais da Serra da Capivara (PI), Serra das Confusões (PI) e Chapada das Mesas (MA).
“Saímos muito mexidos dessa viagem, com o desejo de visitar mais parques. Fomos atrás de informações sobre quantos parques nós tínhamos no país e como funcionava a visitação. Mas eram informações bastante desorganizadas. De repente, pensamos que alguém teria que visitar todos os parques e esse alguém éramos nós”, conta Letícia.
Com a concretização da ideia, Letícia e Dennis percorreram de carro 23 estados e o Distrito Federal, permanecendo 15 dias em cada parque nacional. A viagem foi financiada com recursos próprios, sem fins lucrativos e com a finalidade de chamar a atenção para a singularidade dos parques. Confira abaixo informações sobre a viagem:
🛣️ Início da expedição: 05 de junho de 2021 (dia mundial do meio ambiente)
🏁 Término da expedição: 18 de outubro de 2024
🚗 Distância percorrida de carro: 90 mil Km
🏃🏻♀️ Distância percorrida em trilhas: 3,5 mil Km
🗺️ Unidades da Federação: 24 estados e Distrito Federal
Veja abaixo fotos dos pontos mais extremos do Brasil visitados pelo casal:
Veja fotos dos pontos mais extremos do Brasil visitados pelo casal:
Privilégio
O Brasil possui 6 biomas terrestres que são a Amazônia, a Caatinga, o Cerrado, a Mata Atlântica, o Pampa e o Pantanal. Cada um possui características distintas de fauna, flora e clima. Os Parques Nacionais estão distribuídos em todos os biomas. Veja abaixo:
Mapa elaborado pelo Entre Parques mostra a distribuição dos Parques Nacionais nos biomas.
Reprodução/Entre Parques
Para Letícia e Dennis, é impossível definir qual dos 75 parques nacionais é o preferido do casal, já que cada um tem suas particularidades. O casal diz se sentir privilegiado por ter tido a oportunidade de conviver com a biodiversidade brasileira.
“É muito interessante ter a oportunidade de ver a riqueza dos biomas que a gente tem no Brasil e saber o quão diversos eles são e o quão interdependentes eles são. A gente não consegue pensar em um parque e saber que ele é lindo e que ele está aqui se a gente não está pensando nos outros [parques]”, reflete Letícia.
Como forma de orientar e disponibilizar as fotos, vídeos, mapas e informações sobre os 75 parques nacionais, o casal criou o site do Entre Parques (clique aqui para acessar). O endereço eletrônico permite que pessoas interessadas em conhecer as áreas possam se organizar.
Além do conteúdo online, Letícia e Dennis também disponibilizaram o e-book “Três motivos para visitar os parques nacionais brasileiros” (acesse aqui).
Parques em risco
Os três anos de estrada percorrendo os parques nacionais permitiram ao casal lançar não somente o olhar de viajantes em cada local visitado mas, também, permitiu que Letícia e Dennis se aprofundassem na importância dessas áreas para a preservação do meio ambiente.
Dennis relata que no percurso encontraram cenários contrastantes com a exuberância das áreas protegidas pelos parques nacionais, que vão desde turismo desordenado, passando por garimpos, extração ilegal de madeiras, até a contaminação de rios por mercúrio.
“Como no nosso percurso passamos pelo Cerrado e na sequência fomos ao Pantanal, conseguimos ver o desmatamento que está ocorrendo no Cerrado e, depois, os problemas de assoreamento do rio Paraguai. Nós vimos, por exemplo, a catástrofe que está acontecendo no Pantanal”, conta Dennis.
Como forma de contribuir com a proteção dos parques, Letícia e Dennis levantaram recursos e elaboraram ações que pretendem expandir. Confira:
Elaboração e fornecimento ao ICMBio de placas informativas e educativas para o Parque Nacional do Monte Roraima (RR) em parceria com a Roraima Adventures
Destinação de recursos para a abertura de novas trilhas no Parque Nacional das Cavernas do Peruaçu (MG) junto ao Instituto Ekos em parceria com a marca sueca Fjällräven de equipamentos outdoor
Levantamento de fundos e coordenação da visita de 40 crianças do ensino fundamental ao Parque Nacional dos Campos Gerais (PR) em parceria com o Refúgio das Curucacas e a Fjällräven
Elaboração de um índice de potencial astro turístico dos parques nacionais, com lançamento previsto este ano
Antes e depois do ‘Entre Parques’
Letícia Alves tem 39 anos e é psicóloga.
Divulgação/Entre Parques
O retorno à cidade de São Paulo aconteceu no último dia 18 e para o casal, o momento ainda é de entender o processo pelo qual passaram e retomar a vida aos poucos.
“Mas tem uma coisa que eu já consigo dizer que ficou muito nítida que é a minha sensação de que o mundo cresceu. Eu vejo que o meu mundo hoje tem mais habitantes do que o meu mundo há quatro anos atrás. E, ele foi povoado, principalmente, por seres não humanos. A sensação é de ter visto uma série de árvores e saber reconhecê-las e nomeá-las, de ter visto uma série de bichos, ter olhado no olho de diversos animais silvestres e saber reconhecê-los e nomeá-los”, diz Letícia.
Para Dennis, a principal reflexão está baseada em encontrar caminhos para resolver problemas decorrentes da situação climática pelo qual passa o planeta. A expedição mudou, ainda, a forma como o economista se relaciona com a qualidade de vida.
“Eu trabalhava no mercado financeiro e meus grandes objetivos de vida passavam por uma acumulação de dinheiro, de poder trabalhar pra poder tirar férias. Trabalhar muito pra ganhar bem, pra poder ter uma vida boa. Agora eu vejo que a minha missão de vida é uma missão para todos nós que é conseguir reverter toda essa catástrofe que vivemos”.
Dennis Hyde tem 44 anos e é economista.
Divulgação/Entre Parques
O casal pretende, em novembro, começar a trabalhar em uma exposição que deve ser inaugurada em março de 2025. “Nossos planos incluem estudar os assuntos de ecoturismo e ecopsicologia, cada um na sua especialidade, para nos dividir e contribuir mais com a conservação”, indica Letícia.
Veja vídeos de Mato Grosso do Sul: